domingo, 24 de junho de 2012

Britânicos aderem ao plantio de maconha

Fonte: O Globo

Cultivo doméstico é feito em garagens, terraços e quintais; em um ano, mais de sete mil foram eliminados pela polícia

LONDRES. Cultivar maconha já não é mais um empreendimento exclusivo de plantadores escondidos no meio de matas afastadas, longe dos olhos da lei. Ao menos no Reino Unido. Com a crise batendo à porta dos britânicos, ganharam terreno soluções alternativas, que aproveitam cada pequeno espaço de casa para plantar a Cannabis sativa para o próprio consumo ou para criar uma fonte de ganho extra, um modelo de geração de renda explorado à exaustão no cinema e em séries de TV, como “Weeds”. A criatividade é inversamente proporcional ao espaço físico disponível: garagens, terraços, quintais e até salas de estar estão sendo usadas como estufas indoor.

Média de 20 plantações descobertas por dia

O número de locais de cultivo vem crescendo de tal maneira no Reino Unido que a polícia anunciou já estar eliminando cerca de 20 plantações ilegais por dia. Em um ano foram 7.865 unidades como estas. A quantidade de plantações ilegais descobertas no ano passado deu um salto significativo: há poucos anos a média era de três mil.

— O cultivo de Cannabis cresce em escala industrial, e a polícia está confiante no desenvolvimento de tecnologias que possam colaborar na luta contra esse tipo de crime — disse Phil Butler, codiretor do Centro de Cibercrime e de Segurança Tecnológica da Universidade de Newcastle.

Dados divulgados no último mês pela universidade — numa conferência que reuniu instituições como a Associação de Chefes de Polícia do Reino Unido, o Ministério do Interior, representantes das brigadas de incêndio e das empresas fornecedoras de energia — sugerem que o custo do consumo de eletricidade nesse negócio chega a 200 milhões de libras por ano (equivalente a R$ 636,5 milhões). Boa parte disso é desviada ilegalmente das instalações de energia. A necessidade de luzes fortes sobre plantas hidropônicas no cultivo indoor sobrecarrega o sistema elétrico e gera um tipo de Cannabis com um alto teor de THC, o princípio ativo da maconha.

— Essas estufas são armadilhas fatais: em espaços pequenos como um sótão ou uma garagem, você vê a combinação letal de litros de água com milhares de cabos de energia elétrica — afirma Butler.

Uma das soluções apresentadas por ele no encontro de Newcastle foi a instalação de um medidor inteligente para monitorar remotamente os picos inesperados de consumo de energia na fonte principal, onde estão os “gatos” que roubam a energia extra necessária para as estufas. A quantidade de eletricidade desviada poderia abastecer Newcastle, de 154 mil habitantes.

— O cultivo de Cannabis comercial representa um risco significativo para o Reino Unido. Um número crescente de grupos do crime organizado está migrando para essa área da criminalidade — disse Allan Gibson, comandante da Scotland Yard, a polícia metropolitana. — Estamos determinados a continuar a acabar com essas redes e reduzir os danos causados pelas drogas.

De todas as substâncias ilícitas, a maconha é a mais consumida no país: dez milhões de pessoas entre 16 e 59 anos já a usaram. Um estudo feito pela Associação de Chefes de Polícia do Reino Unido sobre o cultivo comercial de maconha mostra que aumentou no último ano a compra de sementes e equipamentos para cultivo de plantas hidropônicas.

Um plantador ilegal de Yorkshire, de 22 anos, disse ao jornal “The Independent” que esse dinheiro é fácil demais para dispensar “em tempos de crise”:

— Faturo 10 mil libras (R$ 31,8 mil) a cada quatro meses.

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