segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ex-comentarista do UFC: maconha deveria ser permitida para lutadores

Fonte: Sportv

Eddie Bravo defende que droga deixa atletas mais afiados, mas diz que não deveria ser classificada como doping e a compara à proteína

Por Adriano Albuquerque

O debate sobre a legalização da maconha voltou com força ao meio dos esportes de luta em 2012. Neste ano, já foram três lutadores do UFC pegos no exame antidoping com metabólicos da droga em seus sistemas: Nick Diaz, em fevereiro, Matt Riddle, em julho, e Dave Herman, caso mais recente, detectado no UFC Rio III e anunciado na última semana. Houve também casos no boxe (Julio César Chávez Jr) e no judô olímpico (Nicholas Delpopolo). Enquanto alguns defendem que a maconha prejudica o lutador e não deveria ser analisada nos testes de doping, o comentarista oficial do Ultimate, Joe Rogan, declarou em março que considera que a droga melhora, sim, a performance, criando controvérsia. A posição é defendida também por seu mestre de jiu-jítsu e ex-comentarista do UFC, Eddie Bravo.

"Persona non grata" no jiu-jítsu nacional por ter criado uma versão própria, sem quimono, da "Arte Suave", chamada de 10th Planet Jiu-Jitsu, Bravo declarou que a maconha ajudava a performance originalmente numa entrevista à revista "High Times", em 2007. Em entrevista ao SPORTV.COM, o lutador, músico e treinador explicou porque considera a droga benéfica para a luta e o jiu-jítsu.

- A razão pela qual a maconha cura o glaucoma é porque, quando você fuma maconha, abre todos os vasos capilares no cérebro e nos olhos, então o sangue passa. Por isso, seus olhos ficam vermelhos. Ela faz isso com todo seu cérebro, por isso que a comida fica mais gostosa, a música soa melhor. Onde há sangue, há vida. Se você tem mais sangue que o normal no cérebro, ele fica mais vivo, então é claro que vai melhorar sua performance. Por que tantos rappers fumam maconha? Se maconha te tornasse realmente mais lento e esquecido, como você conseguiria rimar doidão? Na verdade, você rima melhor. Há uma razão pela qual lutadores de jiu-jítsu usam maconha e treinam depois: porque te faz pensar melhor e ficar mais afiado - argumentou Bravo, que não revelou quais lutadores de jiu-jítsu fumam.

A afirmação gerou muita controvérsia, particularmente com o bicampeão mundial da faixa-preta Rodrigo Comprido, que publicou vídeo na internet acusando-o de ser "um idiota." Ao SPORTV.COM, em fevereiro, Comprido disse que Bravo e Rogan fazem essas declarações como campanha para legalizar o uso de drogas e acabam influenciando jovens que os admiram. A isso, Bravo respondeu com uma advertência de que suas declarações não eram direcionadas a incentivar crianças ou adolescentes a fumar maconha.

- Eu só comecei a fumar maconha quando tinha 28 anos. Acho que essa é uma boa idade, porque, nessa altura, você já está moldado, sabe quem você é, e, quando fuma maconha, entende o poder. Se você fuma muito jovem, não vai notar a diferença, não vai ver que é da maconha que vem essa arte, essa música. Eu me conhecia com 28 anos, comecei a fumar maconha, e bum, tudo mudou. Comecei a escrever notas por toda minha casa, fiquei cheio de ideias. Foi quando comecei a morfar meu jiu-jítsu. Você fica mais analítico, e algumas pessoas não gostam de analisar muito, porque olham para suas vidas e ficam paranóicos. Eu estava bem na vida quando estava com 28 anos, apaixonado, e isso me deixou ainda mais apaixonado. Maconha aumenta o que você já tem. Se você está nervoso, não fume, pois vai ficar mais nervoso. Se vai fazer algo que está com medo, não fume, vai ficar ainda mais amedrontado - explicou.

UFC RIo 3 Rodrigo Minotauro e Dave Herman (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Em 17 estados nos EUA, incluindo a Califórnia, onde Bravo e Rogan residem, o uso de maconha é permitido para fins medicinais, desde que autorizado por médico, e é recomendado em casos como glaucoma, dores crônicas, AIDS e câncer, entre outros. Nick Diaz e Matthew Riddle, dois dos lutadores pegos no antidoping por uso da droga, têm licença para uso terapêutico da maconha, e discute-se se eles poderiam conseguir exceções para o uso da substância em suas lutas, como é às vezes concedido a atletas que fazem reposição hormonal. Para Bravo, a questão é indiferente: na sua opinião, a maconha não deveria ser testada, mesmo que ele considere que beneficia a performance.

- Proteína também melhora a performance, assim como vitaminas e minerais. O que é (o limite) de melhora de performance? Tem que definir melhor. Acho que deveria ser permitido - concluiu.

Apesar de toda a polêmica, a maconha ainda é objeto de pesquisas para determinar exatamente seus efeitos. Estudos divulgados neste ano apontam resultados antagônicos: enquanto cientistas de São Francisco, nos EUA, descobriram que um dos compostos não-ativos da droga, o Cannabidiol, pode impedir a metástase e combater cânceres agressivos, outro estudo da USC, universidade de Los Angeles, apontou ligação entre o câncer testicular e o uso de maconha entre homens. De forma semelhante, um estudo realizado na Nova Zelândia e publicado na revista científica americana "Proceedings of the National Academy of Sciences" mostrou que o uso contínuo da droga a partir da infância e adolescência pode reduzir o quoeficiente de inteligência (QI), enquanto uma pesquisa britânica publicada pelo "American Journal of Epidemiology" indicou que usuários de drogas ilícitas na meia idade tiveram melhores resultados em testes de memória e outras funções cerebrais do que não usuários.

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