domingo, 11 de novembro de 2012

Legalização da maconha pode mudar guerra contra cartéis mexicanos

Fonte: O Globo

Penã Nieto discutirá o assunto com o governo dos EUA este mês

CIDADE DO MÉXICO — A decisão dos eleitores nos estados do Colorado e de Washington para legalizar o uso recreativo da maconha deixou o futuro presidente do México, Enrique Peña Nieto, e sua equipe preocupados em reformular as estratégias de combate ao tráfico de drogas. O alerta veio após um assessor afirmar que o resultado do referendo "muda as regras do jogo".

É muito cedo para saber a resposta do México em relação ao resultado do referendo, mas um assessor disse que Peña Nieto e membros do futuro governo vão discutir o assunto com o presidente Barack Obama e líderes do Congresso em Washington este mês. A legalização deve estimular um amplo debate entre os mexicanos sobre a direção e os custos da guerra às drogas apoiada pelos Estados Unidos.

O país gasta bilhões de dólares todos os anos em confrontos com os violentos cartéis do tráfico que ameaçam a segurança nacional, mas que têm seu principal mercado nos Estados Unidos - o maior consumidor de drogas do mundo.

Cerca de 60 mil mexicanos já morreram em confrontos relacionados às drogas, e dezenas de milhares foram presos. A violência decorrente destes confrontos e a resposta do Estado ao crime organizado e ao tráfico de narcóticos consumiram o governo do presidente Felipe Calderón.

— A legalização da maconha nos força a pensar muito sobre nossa estratégia de combate às organizações criminosas, principalmente porque o maior consumidor do mundo liberou o uso em lei — disse Manlio Fabio Beltrones, líder do partido de Peña Nieto no Congresso mexicano.

O principal assessor do presidente eleito, Luis Videgaray, disse na quinta-feira que seu chefe não acreditava que a legalização fosse uma resposta. Mas Videgaray afirmou que a estratégia mexicana deve ser revisada à luz do que ocorreu nos Estados Unidos.

— Obviamente, não podemos lidar com um produto que é ilegal no México, tentando brecar sua transferência para os Estados Unidos quando lá, pelo menos em alguns estados, a situação tem um status diferente — disse o assessor a uma rádio.

Peña Nieto prometeu trabalhar junto com o governo americano contra as poderosas organizações criminosas transnacionais quando assumir o Gabinete, em dezembro. Mas ressaltou que seu principal objetivo não é confrontar os contrabandistas, mas reduzir a crescente onda de crimes e violência — como extorsão, sequestro e roubo.

Para Jonathan Caulkins, especialista em tráfico de drogas e professor da Universidade Carnegie Mellon, o início da legalização da maconha nos Estados Unidos permite que o novo presidente mexicano resista à pressão americana de manter a linha dura contra grupos contrabandistas.

Americanos e mexicanos que defendem a legalização da erva já debateram se o fim da proibição acarretaria perda de receita dos traficantes. Analistas geralmente concordam que metade da droga consumida nos Estados Unidos parte do México.

Em um estudo de 2010, especialistas americanos afirmaram que os cartéis mexicanos ganham cerca de US$ 2 bilhões na movimentação de drogas na fronteira dos países, e que o lucro deve girar entre 15% e 26%. Mas Eric Olson, diretor do Instituto Mexicano do Wilson Center, acredita que a perda dos consumidores dos pequenos estados do Colorado e de Washington não deve ter muito impacto na renda desses grupos.

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