domingo, 18 de novembro de 2012

Liberação da maconha para turistas gera discórdia na Holanda

Fonte: Terra

Sentada em uma cadeira de madeira e couro vermelho que quase lembra um trono no fundo do Bulldog Mack, um dos seis coffee shops da rede Bulldog de Amsterdã, Marja observa com atenção tudo o que acontece no ambiente. Um grupo de jovens de vinte e poucos anos começa a falar alto demais em torno da mesa de sinuca e ela levanta imediatamente. "Todos vocês estão bebendo alguma coisa? Vocês não podem ficar aqui sem consumir nada!", esbraveja ela, cabelos curtos e loiros, alguns quilos a mais, pochete na cintura e idade não revelada.

Além de manter a ordem no local, ela é responsável por cobrar 0,50 centavos de euro dos frequentadores que querem usar o banheiro. "Trabalho aqui há muitos e muitos anos, nem sei quantos. Sempre tem um ou outro baderneiro, mas maconha e estrangeiros nunca foi uma combinação problemática", disse ela ao Terra em 3 de novembro, dois dias depois de o prefeito Eberhard van der Laan anunciar que os coffee shops continuariam recebendo estrangeiros. A resolução contraria uma decisão do governo conservador nacional, que havia prometido que, a partir de 2013, apenas cidadãos holandeses seriam autorizados a comprar e consumir drogas nesses locais.

O Bulldog abriu as portas em 1975 no Red Lighst District - bairro também conhecido pela tolerância à prostituição - e foi o primeiro coffee shop de Amsterdã. Hoje é essencialmente turístico, atraindo gente do mundo inteiro. Na matriz, os tipos de maconha e haxixe ficam expostos em um balcão, em que os clientes podem "analisar" a erva e pedir dicas para o barman sobre a intensidade de cada tipo. Também é possível adquirir baseados já prontos ou apenas a erva. Lá, bebidas alcoólicas são proibidas, assim como cigarros "convencionais". Já no Mack, os clientes podem beber e fumar - maconha e cigarros apenas de tabaco. Sempre sob a atenta vigilância de Marja, claro.

O argumento da prefeitura para contrariar uma decisão do governo nacional é de que as restrições para os turistas provocariam um aumento da criminalidade em Amsterdã. "Com a exclusão dos turistas, todos os benefícios do sistema de coffeeshops seriam anulados", argumentou Van der Laan. De acordo com a prefeitura, esses benefícios seriam evitar desordem pública e o tráfico de drogas e ter mais controle sobre a qualidade das drogas leves e também sobre a idade dos consumidores. O prefeito afirma ainda que a venda de drogas para estrangeiros seria um problema nas regiões fronteiriças, mas não na capital. "Franceses, alemães e belgas cruzam a fronteira para comprar drogas leves porque é proibido nos seus países. Não é o caso de Amsterdã, onde o consumo de drogas leves é apenas uma das atividades dos turistas", diz o comunicado distribuído no dia 1º.

Os residentes de Amsterdã parecem estar satisfeitos com a decisão do prefeito. É o caso de Cecilia Teobaldi, guia de turismo que garante que, apesar de não usar as ditas "drogas leves", é contra a proibição para os turistas. "Se proibirem, o que vai acontecer é que os residentes vão começar a comprar drogas para vender na rua para quem vem de fora. Os turistas não vão parar de fumar", garante ela.

Segundo números oficiais, dos 7 milhões de turistas que visitam a capital holandesa anualmente, 1,5 milhão passa por algum dos 220 coffee shops da cidade. As autoridades de Amsterdã negam, no entanto, que a decisão seja baseada em questões econômicas. "Esse 1,5 milhão de turistas não está só visitando os coffee shops", disse o prefeito.

Mas a decisão de Van der Laan pode estar ameaçada. Um dia depois do anúncio de que turistas continuarão tendo acesso aos cofee shops, o ministério holandês da Justiça afirmou que talvez não consiga abrir uma exceção para Amsterdã. "O acordo da coalizão diz que os turistas serão barrados nos coffee shops de todo o país. A adequação que haverá para as exigências locais é algo que ainda não foi finalizado", disse um porta-voz. O empenho do prefeito contra a lei causou irritação em Haia, sede do governo nacional, onde é travada a disputa que irá definir o futuro da tolerante política de drogas adotada no país décadas atrás.

Se depender de Marja, a "guardiã" do banheiro do Bulldog, as coisas devem continuar exatamente como estão. "Conheço muita gente diferente e interessante enquanto trabalho. Onde eu estaria conversando com você se não fosse aqui?", questiona ela.

A repórter Marina Azaredo viajou à Holanda a convite do Ministério de Assuntos Econômicos, Agricultura e Inovação do país.

2 comentários:

  1. " (...)Nos cartórios estão minhas sentenças, encontrando sempre caminhos hermenêuticos para absolver os usuários de droga.(...) Convém, sobretudo aos jornalistas, pesquisar esses documentos com muito zelo (...)O consumo de tóxicos não era crime antes.

    Crime sempre foi o tráfico. A capitulação do consumo como crime teve objetivo político. Permitiu que muitos jovens fossem presos com base em flagrante forjado, para perseguir aqueles que não rezavam pela cartilha do regime de exceção. (...)"

    João Baptista Herkenhoff

    http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2012/11/19/consumo-de-drogas/

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  2. http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6313533-EI306,00-Procurador+e+ameacado+apos+pedido+para+retirar+expressao+em+cedulas.html

    " (...) Eu estou sendo ameaçado por causa dessa ação, por cristãos. Recebi alguns emails com ameaças, em nome de Deus. (...)"

    Não são cristãos. São daquela laia que dá dinheiro pra pastor ladrão, puxa saco de Deus, enche saco dos outros pretendendo se meter na vida alheia e se dizem cristãos. Em suas cabeças doentes, eles acreditam realmente serem cristãos.

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