segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Agentes da lei defendem legalização das drogas

Fonte: O Dia

Formada por delegados, policiais e juízes, Leap Brasil diz que guerra aos narcóticos é a grande causadora da violência no país e defende regulação da produção pelo Estado

Rio -  ‘Quem morre na guerra contra as drogas não é o usuário: é o policial e o traficante’. A frase, dita pelo ex-chefe do Estado-Maior da PM, coronel Jorge da Silva, resume bem a ideia de um movimento que vem ganhando corpo entre os profissionais responsáveis por aplicar a lei no Brasil: a guerra contra as drogas está perdida. Formada por policiais, delegados e magistrados, a Leap Brasil (Agentes da Lei contra a Proibição) acredita que somente a legalização do consumo e a regulação da produção serão capazes de conter a espiral de violência causada pela luta entre Estado e narcotráfico.

“Você já viu alguém tomando conta de uma vinícola com fuzis?”, emenda a juíza aposentada Maria Lúcia Karam, presidenta da organização. “Não viu, mas nos EUA, na época da proibição, era assim. A violência só acabou com a descriminalização”, conclui.

Criada em 2010, a Leap Brasil vai ampliar sua atuação em 2012. Ela é baseada na sua coirmã norte-americana — de onde vem o maior interesse pela continuidade da política, por conta do bilionário lucro do mercado das armas. “Foi uma política criada pelo Nixon (presidente nos anos 60/70) para combater o movimento dos direitos civis nos EUA, que questionava a Guerra do Vietnã. Como não podiam prender pelo ativismo, prendiam pelo uso de drogas”, acrescenta o coronel Jorge da Silva. “Fui criado no Morro do Adeus, no Alemão, e até os anos 70 as armas eram as pedras atiradas pela garotada”.

O coronel acredita que o fim da guerra às drogas levará as comunidades do Rio a uma nova onda de solidariedade. E de paz. “Já enterrei muitos policiais. Quem morre é o preto, o pobre e o favelado. Vi muito mais gente morrendo na guerra contra as drogas do que por usar drogas”, conclui. “Ser a favor da legalização não é ser a favor da glamourização da droga”.

Procurada, a Secretaria de Segurança informou que não comentaria o assunto.

Delegado fala em ‘hipocrisia’

Delegado titular da 18ª DP, Orlando Zaccone tem pronto o discurso de defesa da Leap Brasil, organização da qual é o primeiro-secretário. “A diferença entre o traficante e o empresário é a legalização”, diz o policial. “Há hipocrisia neste tema. Enquanto o banco HSBC aparece no noticiário de economia pagando multa por lavagem de dinheiro do tráfico, só policiais e favelados morrem nesta guerra”, diz. “A guerra contra as drogas afeta a vida e a saúde de muito mais pessoas do que as próprias drogas”.

Pai, inspetor diz não temer ‘apologia’
Com 17 anos de polícia e membro-fundador da Leap Brasil, o inspetor Francisco Chao garante: não quer que sua filha, ainda criança, use drogas. “Mas se ela quiser, não vou conseguir impedir, mesmo sendo policial. Por isso, prefiro a droga legalizada, porque o Estado terá controle”, diz ele, que tem no currículo a prisão do traficante Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes, após intensa caçada no Alemão. “Na Europa, não se bebe na rua. Com as drogas legalizadas, devem fazer a mesma coisa ”.

2 comentários:

  1. Finalmente um jornal divulga a LEAP. Diante da história da proibição, diante da inércia em providências urgentes pelo fim da guerra, quando cessarem fogo, os proibicionistas serão vistos como hoje os torturadores da ditadura militar são encarados: com desprezo. Diante do novo cenário pós-guerra, próspero economicamente e realmente pacificado, aos políticos que apoiaram o genocídio, restará calarem a boca pra sempre, restará nunca mais opinarem sobre nada e se candidatarem a, no máximo, cínico de condomínimo.

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  2. " Procurada, a Secretaria de Segurança informou que não comentaria o assunto. "

    Óbvio. O jornal tentou fazer intriga, fofoquinha. Se ferrou. Silêncio pra quem quer continuar ignorando. Se houvesse um pronunciamento, seria no sentido de que cada um defende o que quer defender e ponto final. O jornal achou que ia conseguir criar problema pra algum integrante da organização. Pensa que como ele, como o jornal, a Secretaria ignora existência da entidade e de tantas outras...Santa ignorância.

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